O que me faz prosseguir em conhecer

TEMA 4; PALADAR

07/03/2015 00:57

Texto:  Mateus 22: 1-10 / João 6: 10-11 / João 6: 51-55

 

Introdução:

            “O reino dos céus é como um... banquete” (Mateus 22:1). Que modo mais curioso teve Jesus para falar do elemento mais importante de toda a sua pregação! O Reino de Deus é um banquete? O que isso significa? Que relação há entre o estado pleno de vida chamado de Reino dos céus e uma refeição farta que chamamos banquete? Antes de aprofundar essas relações vale a pena pensar a importância do paladar como um sentido profundo para a vida humana – comendo e bebendo nos fazemos vivos, partilhando a mesa nos fazemos cúmplices e amigos.

            Nossa mensagem está baseada em duas partes : Na primeira parte da mensagem, utilizaremos o texto de uma parábola, onde  Jesus compara o Reino de Deus a um banquete (Mateus 22: 1-10). Na segunda parte, utilizaremos dois textos: O primeiro é o milagre da multiplicação dos pães e peixes (João 6: 10-11). O segundo, encontra-se no Evangelho de João, onde Jesus se declara o Pão vivo que desceu do céu (João 6: 51-55).

            Essa maravilhosa capacidade que temos de transformar um hábito comum a todos os animais em uma celebração da vida em todas as suas dimensões foi escolhida por Jesus para identificar a vida plena inaugurada pela presença de Deus junto aos homens e mulheres: O reino de Deus é um banquete! Jesus inaugurou o Reino de Deus através do perdão dos pecados, comendo e bebendo com pecadores: “Mas os fariseus e os mestres da lei o criticavam: Este homem recebe pecadores e come com eles (Lucas 15:2).

 

Parte I – O Reino dos céus é como um... banquete!

  1. O convite de Jesus é para todos, mas alguns não aceitam sentar a mesa com Jesus.

            (...) Enviou seus servos aos que tinham sido convidados para o banquete, dizendo-lhes que viessem; mas eles não quiseram vir. De novo enviou outros servos e disse: “Digam aos que foram convidados que preparei meu banquete (...) Venham para o banquete de casamento!”. Mas eles não lhes deram atenção (...). Então disse a seus servos: “O banquete de casamento está pronto, mas os meus convidados não eram dignos. Vão as esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês encontrarem”. Então os servos saíram para as ruas e reuniram todas as pessoas que puderam encontrar, gente boa e gente má, e a sala do banquete de casamento ficou cheia de convidados (Mateus 22: 1-10).

            No caso deste texto, a parábola serve para apresentar o perfil daqueles que concretamente estiveram com Jesus ao longo de sua vida, partilhando com ele de seu anúncio: a vida plena que surge do acolhimento do Reino de Deus.

            A princípio, Jesus diz que todos são convidados para o banquete, para tomarem uma refeição, comendo e bebendo para o fortalecimento de uma nova vida. “Eis que estou a porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3: 20).  A questão, porém, não se encontra no desejo de Jesus de partilhar a comida e a bebida como os homens e as mulheres. A questão está na resposta dada ao Mestre. Para clarear um pouco essa questão é preciso responder a duas perguntas: Por que uns aceitam cear com Ele e outros não? Que implicações surgem do se sentar com Jesus para com Ele fazer uma refeição? A resposta à primeira pergunta está contida na compreensão da segunda, ou seja, só poderemos saber porque uns aceitam cear com Jesus e outros não quando soubermos o que significa, e quais implicações, desse estar juntos numa refeição com o Mestre.

            Na cultura de Jesus, comer com alguém era algo muito mais profundo e significativo do que a forma com o que compreendemos essa prática nos dias de hoje. Desde o antigo testamento, comer com alguém já significava fazer aliança. Na aliança que Abimeleque fez com Isaque, a Escritura diz o seguinte: “Então lhes fez um banquete, e comeram e beberam. E levantaram de madrugada, e juraram um ao outro” (Genesis 26: 30-31). Quando pessoas se reuniam para uma refeição, faziam mais do que comer; elas partilhavam de alguma forma suas vidas, projetos e ideais. Faziam aliança umas com as outras. Declarar que o Reino de Deus é um banquete é dizer, portanto, que ele significa um encontro de pessoas que desejam partilhar suas vidas, assumindo uma aliança que as compromete num destino comum.

            Aquelas muitas pessoas da parábola que foram chamadas a refeição estavam sendo, na verdade, convidadas à caminhada junto com Jesus para a construção do reino. Isso significava (e ainda significa, mesmo que não estejamos tão interessados) partilhar com ele de sua vida e dos seus sonhos e projetos que ela representava. Porque aquele primeiro grupo de pessoas da parábola não aceitou ir ao banquete? Lendo o texto  a partir de seu contexto, é possível dizer que eles não aceitaram porque não queriam compartilhar suas vidas, consumindo-as na realização dos projetos e ideais de Jesus. Não queriam com dom Jesus porque não queriam fazer uma aliança com ele.

            Não queriam comer com ele porque não suportavam a ideia de serem impregnados por aqueles ideais de vida que lhes exigiam partilhar suas existências como refeição para o fortalecimento das vidas de tantos outros. Não queriam comer daquele banquete, porque o que se faria ali era mais do que simplesmente comer. Não só o estômago estava sendo convidado, mas todo o corpo.

 

  1. Jesus come com Pecadores

Então os servos saíram para as ruas e reuniram todas as pessoas que puderam encontrar, gente boa e gente má, e a sala do banquete de casamento ficou cheia de convidados (Mateus 22:10)

Estando Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulos muitos publicanos e pecadores. Vendo isso, os fariseus perguntaram aos discípulos dele: “Por que o mestre de vocês como com publicanos e pecadores?”. Ouvindo isso, Jesus disse: “Não são os que tem saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mateus 9: 10-12).

            No texto é apresentado o perfil daqueles que concretamente estiveram com Jesus ao longo de sua vida, compartilhando com ele o seu anuncio: a vida plena que surge do acolhimento do Reino de Deus. É surpreendente que entre os seguidores de Jesus, que com ele comiam e bebiam, se encontrem pecadores e publicanos, ou, como diz a parábola, “gente boa e gente má”. A cultura dos tempos de Jesus colocava em destaque o significado de tantas refeições feitas com “aquele tipo de gente” no plano religioso e moral; para aqueles que estavam à mesa com o Mestre chegara o perdão dos pecados.

            Trocando a sinagoga e o templo pelas casas e suas mesas, Jesus estava mudando a compreensão acerca das Escrituras que os líderes de então faziam. Nesse sentido, as refeições não eram algo como os nossos fast food, mas lugares de salvação, de restauração de dignidade. Por isso, quando o texto mostra alguém sentado a mesa com Jesus, o que se está fazendo é uma proclamação de um novo tempo de salvação. Aceitando entre os seus companheiros de refeição gente desprezada, Jesus proclamava de modo mais claro, e também mais escandaloso, que é vontade de Deus acolher os pecadores”

 

Parte II – Jesus alimenta a Multidão e se declara o Pão vivo que desceu dos céus (João 6: 10-11; 51-55)

  1. Do pouco, Jesus faz um banquete.

Disse Jesus: “Mandem o povo assentar-se”. Havia muita grama naquele lugar, e todos se assentaram. Eram cerca de cinco mil homens. Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu entre os que estavam assentados, tanto quanto queriam; e fez o mesmo com os peixes (João 6: 10-11)

            O milagre da multiplicação dos pães é muito especial na tradição dos Evangelhos. Ele é comentado pelos quatro evangelistas, e isso não aconteceu com relação a nenhum outro milagre. Dar de comer e o que isso representa foi compreendido como central no ministério de Jesus pelos primeiros cristãos. O olhar de Jesus era sensível para a realidade das pessoas que o seguiam. “Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que se aproximava, Jesus disse a Filipe: ‘Onde compraremos pão para esse povo comer?’”. Ter os olhos na realidade do povo é a melhor forma de se livrar de preconceitos e ideologias. Jesus olha para o povo e faz seus discípulos olharem também; dessa forma, o problema do povo assumido por Jesus é também um problema dos discípulos.

            A inquietação que surgiu a partir da decisão de Jesus de alimentar todo aquele povo foi o quanto isso custaria e de onde tirariam esses “duzentos denários”. Logo o problema foi resolvido. Apareceram alguns discípulos dizendo: “Aqui está um rapaz com cinco pães e dois peixes, mas o que é isso para tanta gente?” (João 6:9). Quantas vezes olhamos em volta e tudo nos parece insignificante. Foi exatamente o que essa frase queria dizer. Em outras palavras: Cinco pães e dois peixes é totalmente insignificante para essa quantidade de pessoas. Jesus surpreendeu a todos da mesma forma que nos surpreende: Ele age através do simples. Aquilo que para nós é insignificante, é suficiente para que Jesus faça algo grandioso.

            Disse Jesus: “ Mandem o povo assentar-se”. Havia muita grama naquele lugar, e todos se assentaram. (...) Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu entre os que estavam assentados, tanto quanto queriam; e fez o mesmo com os peixes (João 6: 10-11). Primeiro os faz sentar: eles não iriam pegar um alimento daqueles e comê-lo de qualquer jeito; iriam saborear a comida que o Mestre lhes tinha providenciado. O que estava ocorrendo ali era um banquete. Outro detalhe: Eles se assentaram sobre a grama verde. A grama verde nos lembra a relação de pastoreio.

            Logo em seguida Jesus continua revelando a natureza de sua ação milagrosa: ele toma os pães e peixes oferecidos por um jovem do povo e os multiplica à medida que os partilha. O milagre não é da criação de pães e peixes, mas da multiplicação. Dessa forma, todos estão envolvidos nele: os discípulos que organizam o povo, o jovem que oferece aquilo que tem e Jesus que age organizando a partilha multiplicadora.

 

  1. A diferença entre o pão que perece e o Pão vivo

            A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos. Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação (João 6: 26-27).

            “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo (...)”. Jesus lhes disse: “Eu lhes digo a verdade: se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida” (João 6: 51-55).

            O povo que foi chamado a uma refeição com Jesus, a pegar a comida de suas mãos como um sinal de partilha de ideias e ideais, parece não ter entendido a profundidade daquele gesto do Mestre. Por isso, ele diz: “A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos (João 6: 26). Aconteceu ali o que acontece muitas vezes hoje, diante de sinais que são uma espécie de placas sinalizadoras; nos detemos achando que aquele é o fim, que ali está a verdade. Quando fazemos isso, deixamos de perceber aquilo para o que o sinal está apontando. É como se quiséssemos ir para um determinado lugar e de repente parássemos julgando já ter chegado a nosso destino. Aquela multidão comeu e se fartou, mas não compreendeu em profundidade o que Jesus queria lhes dizer com aquele sinal.

            “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre” (João 6: 51). Aqui está a mensagem mais profunda: Aquele que providenciou a comida é ele mesmo a comida. Não uma comida que vê cessar seus efeitos e logo depois abre lugar novamente à fome, mas uma comida capaz de gerar vida plena. “Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida” (João 6:55).

            Comer deste verdadeiro pão é perceber que a vida tem outras dimensões que não somente aquelas ligadas às necessidades mais simples. Embora pegar a comida para o sustento do corpo seja necessário, partilhar da vida e dos ideais de Jesus que apontam para uma existência plena e plenamente partilhada, é ainda mais importante. Jesus estava chamando todo aquele povo, e nos está chamando também, a segui-lo, a fazer com ele uma aliança de vida. Isso era mais do que ver milagres e até do que ser beneficiado por eles. Isso é mais do que encher a barriga com pão ou a mente com ideias religiosas; é ter toda a vida preenchida pela dinâmica da partilha que faz multiplicar a vida plena; é fazer da vida uma refeição em que todos podem comer do pão que perece e sobretudo daquele que traz plenitude.

            Essa dimensão mais plena e profunda da relação com Jesus, representada pelo símbolo da comida, é tão importante para ele a ponto de dizer: “Se vocês não comerem (...) não terão vida em si mesmos” (João 6: 53). Muitos o abandonaram naquele dia; porém, a exigência de estar integralmente com ele não foi relativizada. Os que se foram de fato não conseguiram compreender o que de mais profundo estava sendo dito pelo Mestre. Os que entenderam, poucos, na verdade, ficaram ainda mais apaixonados após aquela experiência. É como disse Pedro: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna” (João 6:68).

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