O que me faz prosseguir em conhecer

A FONTE DOS CONSELHOS DE DEUS

07/03/2015 13:26

Texto: Neemias 8:1 a 12

 

            Pensar a igreja, as pessoas, a comunidade que se reúne por causa de Jesus, pelo nome de Jesus, como fontes dos conselhos de Deus. É pensar a igreja não simplesmente como uma instituição cheia de burocracias, não simplesmente como uma estrutura de cimento, tijolos, pintada, é pensar a igreja como comunidade, como reunião, como interação, aproximação de pessoas, e a partir daí, dessa aproximação, desse contato, dessa convivência, pensar então a manifestação dos conselhos de Deus, como uma fonte mesmo, da qual brota, da qual jorra verdades, princípios, conselhos, ideias, preocupações que sejam profundamente divinas, que mostrem, que revelem de maneira clara os desejos, o que Deus quer de nós.

            É pensar a igreja com pessoas, com suas limitações, com seus altos e baixos, com as suas histórias, com suas experiência e no meio disso tudo, numa aproximação sincera e verdadeira, cheios do desejo de sentirem, de viverem a presença de Deus a partir disso. Ouvirmos, sermos impactados, tocados pelos conselhos e pela vontade de Deus.

            E quando pensamos nisso percebemos que hoje vivemos uma crise. Não uma crise de ouvirmos grupos ou pessoas que se dizem canal ou porta vozes dos conselhos de Deus. O problema não é esse. Se ligarmos o rádio e passarmos as estações teremos várias e várias emissoras ditas evangélicas falando de alguma forma acerca de Deus, ou alguém como porta voz das coisas de Deus. Hoje temos inúmeras possibilidades disso, coisa que antes não havia. O problema não é acessarmos mensageiros, porta vozes que se dizem, que se intitulam como reveladores dos conselhos de Deus. O problema não é esse.

            O problema é termos a capacidade de discernimento, de entendermos realmente onde e através do que podemos ter um modelo, um padrão, uma espécie de peneira, para retermos o que são realmente os conselhos de Deus e deixarmos de lado aquelas coisas que são desejos humanos, interesses pessoais e que em sua maioria não são louváveis. O problema não é acessarmos, o problema é o discernimento.

            Como bons crentes que somos, Batistas em nosso caso, aprendemos desde crianças, desde o inicio de nossa caminhada que a Bíblia, as escrituras são como uma espécie de óculos, de meio pelo qual nos temos a capacidade de discernirmos, do cooptarmos aquilo que realmente são os conselhos de Deus.

            O interessante é que pensar as escrituras, pensar a Bíblia, a palavra de Deus é pensar em comunidade. Hoje nós temos um acesso muito fácil a leitura individual dos textos bíblicos sim, mas se dermos uma olhada na historia da leitura dos textos sagrados, perceberemos que os textos sagrados sempre foram lidos na tradição judaico-cristã em comunidade.

            Nos últimos versículos de Colossenses 4:16 nos vemos o autor dizendo: olha, vocês leram esse texto ai agora transmitam, dividam com os irmãos de Laodiceia. A dificuldade de acesso a leitura, aos manuscritos tornava obrigatoriamente a palavra de Deus um texto da comunidade. Um texto interpretado entre as pessoas. Um lia e a partir dessa leitura coletiva todos acessavam o texto. Era um texto para ser compartilhado, interpretado, consumido pela comunidade. Nesse sentido, nos vemos o próprio texto bíblico servindo de instrumento de aproximação das pessoas, para juntas se alimentarem, crescerem no conhecimento da palavra.

            No texto lido nos vemos um momento muito parecido com o que falamos. O povo estava voltando de um longo exílio. Babilônia havia levado um grupo grande de judeus la para Mesopotamia. Depois de mais ou menos 60 ou 70 anos esse povo começa a voltar. Voltam para reconstruir a vida, se reorganizar enquanto nação, para reformularem a vida religiosa. O interessante é que nesse processo de reformulação, de reestruturação o texto bíblico está lá. É uma experiência muito bonita: o texto é lido e tratado de forma especial, as pessoas ouvem, se comovem, são movidas e profundas transformações acontecem, ou seja, a nação volta, cercam o texto e coisas acontecem. Ou seja, ao se reunirem em torno das escrituras, aquele momento se torna fonte dos conselhos de Deus.

            A partir desses relatos da experiência de Esdras e Neemias eu quero compartilhar como as escrituras são fontes dos conselhos de Deus na igreja. O problema que vivemos uma sociedade extremamente individualista. Como pensar que o texto bíblico pode ser um canalizador de aproximação e a partir daí ser uma fonte para nós em comunidade, uma fonte dos conselhos de Deus. Guardando as devidas diferenças históricas, eu percebo que aqui encontramos profundos ensinamentos e alguns princípios para que as escrituras se tornem entre nós fontes dos conselhos de Deus.

 

1 - Observando o texto percebemos que as escrituras se tornam fonte dos conselhos de Deus para a igreja quando a comunidade realmente as valorizam.

            Ai entramos num problema, porque não basta termos as escrituras entre nós, não basta todos os domingos e quartas o pastor ou alguém estar expondo as escrituras. Antes disso, nós precisamos nos aproximar desse texto, desses momentos de uma maneira especial, valorizando-os. Parece obvio. Mas vocês perceberão que não é tão obvio assim.

            Observe o texto: diz que a lei, o texto é colocado no centro e forma-se uma comunidade de leitura, de interpretação, de acesso ao texto. Versos 3 e 5 diz algo interessante. Imagine você a cena: o povo em pé ou sentado, o texto no centro e de manhã até meio dia o texto sendo lido e a cena que me vem em mente é da delicia, da satisfação, do texto sendo sugado. Era tão profundo, tão impactante que as pessoas ficavam ali ouvindo, atentas, se deliciando com as palavras que ouviam, as palavras impressionavam, faziam sentido, tinham seu espaço.

            Não era somente mais um momento da rotina da religiosidade judaica, não era um momento qualquer, era um povo que cercava o texto e esse texto penetrava, mexia, tinha seu lugar, estava no centro, não era algo periférico. O tempo não foi problema, a falta de conforto não foi problema, o cansaço talvez não fosse problema, porque a comunidade realmente valorizava aquilo que lia.

            Sola escriptura. Não somos da reforma, mas cremos nisso. Tradições são boas, mas caducam. Tem seu lugar, mas se perdem na historia de acordo com o contexto ou aplicação. As escrituras estão acima das tradições. O problema esta em não colocarmos as escrituras como centro. O texto tem que ter prioridade entre nós enquanto texto da comunidade. E eu percebo que hoje, na igreja evangélica brasileira ocorre uma desvalorização das escrituras, por isso ocorrem tantas coisas esquisitas por ai. Percebo essa desvalorização em algumas coisas, como por exemplo:

  • Na música – ha tantas invencionices que até assustam.
  • Em algumas afirmações sobre fé, relação com Deus. Expressões que passam longe das instruções bíblicas
  • Pessoas, tanta gente correndo atrás de promoção pessoal nas igrejas.
  • Alguns que acham que ser cristão é o mesmo que pertencer a um clube.
  • Quando com muita facilidade os objetivos da fé cristão são trocados por preocupações pequenas.
  • Quando temos tempo para tudo na igreja, menos para uma boa exposição das escrituras.
  • Quando vejo o numero de cristãos no Brasil aumentar e isso não fazer  quase nenhuma diferença para o andamento das coisas no pais.

            Não basta dizer que temos a Biblia, é preciso valoriza-la profundamente. As escrituras tornam-se assim conselhos de Deus, necessários, que as vezes nos afrontam a deixarmos algumas coisa de lado para que eles se tornem centrais na nossa pratica cristã. Estamos dispostos a isso sim ou não.

 

2 - Outro ponto para que as escrituras se tornem a fonte dos conselhos de Deus e que ela deve ser acessada em cooperação.

            Olha que interessante. O texto diz que Esdras começa a ler e inicia-se um trabalho conjunto. Levitas, outros da liderança começam a ler o texto e interpretar esse texto. As pessoas se aproximam, há uma cooperação. Eles estavam voltando da Babilonia, havia o problema da língua, do entendimento. E agora em conjunto o texto começa a ser lido, interpretado, digerido pela comunidade e isso não é feito de maneira individual, acontece na aproximação. O interessante é que a partir daí, dessa cooperação as pessoas são movidas.

            O texto torna-se um instrumento. Instrumento de quê? De aproximação das pessoas. De retiradas de barreiras, de espaços, e esses espaços agora são preenchidos por pessoas desejosas de ouvir a voz de Deus. E o texto faz isso, e então a partir daí acontecem os conselhos de Deus. Mas há uma cooperação, todo mundo participa. Não há espaço para individualidade. Não há espaço pro desejo da alto satisfação. Não há uma promoção pessoal. O que há é uma transformação coletiva por intermédio da cooperação da leitura. Todos nós temos uma historia e o nosso olhar consegue entrar e perceber coisas do texto que individualmente não é possível ser acessado.

            Imaginem hoje, na nossa realidade como igreja, como templo, os bancos afastados posicionados em um grande circulo, o pastor e mais alguns ao centro com o texto nas mãos, a leitura sendo feita, centralizada e as pessoas compartilhando suas experiências, se identificando com o texto e com isso mais pessoas se enxergando no texto, e os conselhos do texto mudando, transformando vidas.

            Se essa cena só é possível na imaginação pelo fato da estrutura física que somos como igreja, ela é totalmente possível na realidade do que são os PGs. O problema, de fato a solução, não é quem está liderando o grupo, mas sim o fato de que a Bíblia esta centralizada no grupo, que ela em coletividade e cooperação é lida e se torna conselho de Deus.

            Você tem participação nisso, o seu olhar faz a diferença, e a partir das escrituras, na comunidade, na cooperação ela começa a falar conosco, a tocar em temas e coisas da nossa vida, que de uma outra maneira não seria possível. E vidas são transformadas,

 

3- A Bíblia realmente é conselho de Deus na comunidade quando realmente nos toca.

            Observe o texto no final do 9: o texto diz que as pessoas ouviam, ouviam a interpretação, e o que começou a acontecer: começaram a chorar. Ao ponto de Neemias e Esdras e os demais cegarem a pedir calma gente, hoje é dia de alegria, é dia santo ao Senhor. E o texto volta a repetir: e eles choravam. De alguma maneira, sem muito estardalhaço, sem muita força, sem muito movimento, sem muita estratégia, só leitura e interpretação, o texto tocava, mexia. Mexia tanto ao ponto dos homens e das mulheres depois voltarem para suas casas já cumprindo uma parte do que haviam ouvido.

            O texto diz no versículos 10 e 12: e ao voltarem eles foram comer, mas ao comer não se esqueceram dos outros; dividiam, repartiam e todos se deliciavam com a partilha. O que esta acontecendo aqui é a palavra que está tendo sentido, está tocando, não é um mero momento religioso onde ouvimos coisas ao leu. Ela mexe, ela toca, ela leva a comoção, ela leva a pratica.

            Não adianta de nada vivermos dez, quinze, vinte anos, ouvirmos todos os sermões possíveis de serem pregados, ao ponto mesmo de nos lembramos de cada um, e não experimentarmos conselho que a palavra nos dá, não pormos em pratica. Vou fazer uma pergunta: a quanto tempo você não é tocado desse jeito? A quanto tempo você não consegue perceber esse movimento do ouvir o texto, de mudar o seu jeito, mudar a sua maneira de ver o mundo? Temos uma enorme facilidade de tornarmos isso aqui um movimento mecânico de entrar, ouvir e cantar louvores, ouvir o sermão e sairmos sem que nada faça a diferença. Não é o tempo que você tem de casa que revela que realmente a palavra de Deus tem sentido para sua vida. Não é tempo que você gasta aqui dentro que revelarão que realmente a palavra de Deus tem sentido para você. Isso vai se revelar quando a palavra que aqui ouvir se encarnar em nossa vida, mover a nosso modo de ver a vida, mover a nossa visão de mundo.

            Tem um grande exegeta que diz: a Bíblia não só é interpretada, a Bíblia nos interpreta também. Ela nos interpreta mostrando algumas coisas em nossa vida que precisam ser mudadas, mexendo em coisas em nós que precisam ser mexidas. Ai sim Ela torna-se conselho de Deus para nós.

            O Povo voltou e ao voltarem não voltaram da mesma maneira, voltaram transformados, tocados. As lagrimas só eram um símbolo do que estava acontecendo dentro, só foram a ponta do iceberg, porque o iceberg pleno só foi conhecido depois que eles voltaram a vida, renovaram as festas, reestruturaram o culto, reformularam as praticas, purificaram o olhar, deram uma nova interpretação prá vida, se tornaram outra comunidade, foram transformados pelo conselho desse Deus, por meio de sua palavra.

 

Conclusão.

            Quanto tempo você tem de casa, o quanto você tem sido tocado e o quanto em vidas você tem tocado. Vamos tornar essa palavra o instrumento dos conselhos profundos de Deus. Vamos impactar vidas por meio dos conselhos dessa palavra, compartilhando-a com e em comunidade, nos PGs, no evangelismo e em nossas próprias vidas

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